De mil e um voos, de mil e uma partidas e chegadas, tudo se arrecada na viagem. Nada fica para trás, carregado nas memórias que ainda o são. Para um tempo em que não existam.
Maybe I didn't treat you Quite as good as I should have Maybe I didn't love you Quite as often as I could have Little things I should have said & done I just never took the time
But you were always on my mind You were always on my mind
Maybe I didn't hold you All those lonely, lonely times And I guess I never told you I'm so happy that you're mine If I made you feel second best Girl, I'm sorry I was blind
You were always on my mind You were always on my mind
Tell me, tell me that your Sweet love hasn't died Give me, give me one more chance To keep you satisfied Satisfied
Little things I should have said & done I just never took the time
You were always on my mind You were always on my mind You were always on my mind You were always on my mind
Não sabia até que ponto sentir-lhe a falta lhe podia fazer ver quanto o amava.
Preferia sentir-se livre de tais amarras, sempre.
Sentir-se capaz de amar sem sentir desejos de ter sempre consigo a presença. Saber viver das imagens, dos sons, dos cheiros que as memórias tão bem sabiam preservar e lhe ofereciam de mão beijada sempre que precisava delas. Toda a sua vida se enchia assim simplesmente, inspirando e expirando sem que nunca faltasse alimento. Não lhe sentia a fome.
E agora, ao sorver-lhe as memórias deu-se conta de quão pouco tinha. Dum vício a crescer e de como quando de vez em quando lhe apetecia uma colherada a mais e não a tinha.
Poder dançar dentro dele a alegria do amor que sinto por ti.
Folgadamente. Sem apertos nem constrangimentos.
Não, não quero fugir do abraço que me estendes.
Gosto quando os dedos se juntam cruzando-se num enleio também ele abraço. Gosto assim. Desse duplo abraço que sem prender me conforta e não sufoca. Nunca. Não é um abraço apertado que não me deixe respirar sem o teu sopro.
Somos os dois, em dois corpos separados, na mesma dança. E é assim que mesmo, ás vezes, em passos trocados a nossa dança se constrói: num abraço de espaços definidos e assumidos. Num abraço onde só cabemos nós e mais ninguém.
Já não tenho idade para andar tão depressa e tanto! Sentou-se ofegante mas com a avidez bem desperta de falar com quem a escutasse. O médico mandou-me fazer exercício. Não posso engordar mas agora comia qualquer coisinha. Quer uma bolacha? Perguntou-lhe alguém a seu lado. Uma bolacha não que engorda, se fosse uma peça de fruta… No entanto a oferta encorajou-a no seu exercício que poderia deixar de ser unicamente um monólogo. As danças que fazia tantas vezes sozinha podia agora fazê-las com um par. Mesmo que fosse ela a comandar ou tão-somente a ser observada.
Comecei aos 16 anos a fazer estas viagens com a minha mãe. Para o casino, jogar nas máquinas. Para um pouco e pergunta. Não joga, pois não? Não espera pela resposta. Não o faça. Logo que começa nunca mais acaba. Tenho 80 anos e não consigo parar. Gasto quanto tenho todos os meses neste casino. Não tenho dividas mas não tenho nada.
Continua a história de solidão que vive entre desejos de morte e histórias mais ou menos picantes com algumas palavras que pede licença para dizer. Ri e chora no intervalo da inspiração e da expiração. São os humores que lhe alimentam a vida.
Entra no comboio que a leva ao destino todas as semanas. Religiosamente. A principio com a mãe. Agora sem ela. Continua a história dos empregos, dos biscates. De como procura e encontra na roupa usada dos outros a que veste de forma digna. De como mesmo assim se sabe gozada por quem a vê passar. Porque lhe conhecem o vício e sabem que debaixo da máscara que tão bem sabe pôr há só uma velha viciada sozinha que vive numa casa grande de 3 pisos que um dia foi sua e agora habita por contrato até um dia qualquer.
Quase á chegada sem se saber porquê o comboio pára antes de qualquer estação. O silêncio interrogativo instala-se. A voz dela quebra-o. Alguém tem alguma coisa que se coma? Todos a olham admirados. Ninguém responde. O comboio arranca de novo. É que ela não comera nada desde o meio-dia. Não tinha dinheiro para jantar e na ânsia do jogo esquecera-se de usar o vale que o casino lhe dera para comer uma refeição leve antes de apanhar o comboio.
Ela entrou timidamente espaço dentro. Lufadas de ar empurravam-na devagarinho a tempos inusitados e faziam-na avançar por sítios desconhecidos. Mais folhas a esperavam. Doutras formas, doutras cores e tamanhos, já arrumadas em cantos onde nenhum vento as pudesse perturbar. A pouco e pouco ela avançava. O desconhecido começava a fazer parte dum território ganho entre medos e ansiedades. Afinal eram só passos e o que vinha não era mais que o que passava. Ela abandonava-se. Até que tranquilamente poisou. Num canto onde o fôlego do ar se deixou descansar e a libertou de receios deixando-a aninhar-se num lugar a que chamou casa até nova viagem
Não importa o que sou nem quem sou. Importa que sou.
Foi ele...
O Daniel é que teve a culpa. Um dia, de forma inocente, depois de ver algumas fotos, sugeriu que as mostrasse. Só o faria se ele ajudasse... E, não é que ajudou!