Pontualidade ou falta dela

Era extremamente pontual. Nervosamente pontual. Tinha um relógio inscrito no ADN. Talvez. E a mania de lhe andar á frente. Sempre. Doíam-lhe os nervos dos atrasos que antecipava aos outros. Doíam-lhe as esperas mesmo sem as ter feito.

Conhecera-a quase por acidente. E de repente sucederam-se os telefonemas que não paravam. A vontade de a ouvir não cessava. Não havia tempo nem hora desadequada para o fazer. Dedilhar o teclado e esperar que ela atendesse. Não importava a espera.
Quis conhecê-la melhor. Convidou-a para jantar. Uma e outra vez.
Uma noite deixaram-se ficar até ao abraço e ao beijo que lhes deu vontade de mais encontros.
Combinaram-nos. Datas e horas.
E o seu relógio biológico julgou-se pressionado. Entrou em alerta.
Afastou-se.

De quando em quando manda-lhe uma mensagem, um beijo em ar de promessa ao que ela responde educadamente. Ás vezes convida-a mas não aparece. Inventa uma desculpa que ela já sabe existir. Não se surpreende. Sabe que ele estará sempre lá mas nunca com ela.
Por vezes irrita-se. Depressa se acalma. Irrita-se porque se deixou amar e amou. Irrita-se porque perdeu sem ter tido.

Hoje voltou a mandar-lhe uma mensagem. Tenho saudades. Ela deixou cair uma lágrima. O namorado perguntou-lhe, que tens? Respondeu-lhe, nada meu amor. Coisas minhas, Faltas de pontualidade. Atrasos.
O namorado encolheu os ombros. Ás vezes não a entendia.

1 comentário:

  1. Há leituras, que nos fazem saltar as lágrimas pelos olhos fora, como se fosse um rio q escoa até ao mar!...
    Beijinhos

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