Falta de espaço

Ás vezes o espaço faltava. E nem se percebia muito bem porquê. As pessoas eram as mesmas. Ninguém tinha mudado de vida. O rumo dos dias era o de sempre.
Mas as coisas pareciam sobrar e os espaços minguar.
Era o tempo de revirar as coisas. Arranjar novos espaços. Por de lado ou dar o que já não servia e redefinir os lugares que agora restavam.
Limpezas. Tirar o mofo antigo, arejar-lhe os caminhos e abri-los a coisas de agora. Coisas que agora ainda valiam a pena serem guardadas. Porque nem tudo se renova ou troca. Nem tudo se tira das prateleiras a que ainda damos uso.
Descobrem-se as histórias que em tempos se calaram no fundo duma gaveta. E o tempo esgota-se no meio das papeladas que já há muito não se viam. Ou nas fotografias que julgávamos perdidas. Ou naquele anel que um dia causou sensação e sem quê nem para quê se deixou de ver. O que se pensou então… E afinal estivera sempre ali, num lugar que agora parece ser o mais óbvio. Na altura não o foi.
E a poeira que em tempos assentara levanta-se agora devagarinho mostrando o que tínhamos deixado longe da vista. Duma forma mais clara.

Agora parece que tudo volta ao normal. Tudo respira mais tranquilo no espaço renovado. Parece até haver espaço de sobra e tudo parece mais leve.
É tempo de fazer novas viagens e armazenar outros souvenirs.

Um dia far-se-ão novas arrumações. Sempre que for necessário. E não será preciso outro espaço. Caberá tudo mais uma vez.

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