Naquele dia tinha-se levantado ligeiramente indisposta. Não dormia já há várias noites e decidira tomar uma das suas pílulas. Faziam-na sempre sentir assim. Por isso as evitava. Decidiu sair, tomar ar. Deixar que o vento fresco que corria nessa manhã lhe levasse para longe aquela agrura.
Não se dirigiu ao carro. Apetecia-lhe andar.
Caminhou sem destino, sem ver, sem escutar. Começava a sentir-se melhor.
Já tinha passado, sem se dar conta, pelo cafezinho onde costumava sentar-se e ler as primeiras notícias acompanhada de um sumo de laranja natural.
Quando os pensamentos se atropelavam na sua cabeça, perdia-se de tudo. Mesmo do que a ocupava.
Acabou por parar num sítio que ainda não conhecia. Uma pequena esplanada virada para um jardim. Sentou-se. O coração estava acelerado. Não costumava andar tanto. Retomou a pouco e pouco o seu bater cadenciado.
Ao largo, uma miúda sentada na relva a brincar com uma boneca. Sozinha.
Por onde andariam os pais?
Pediu um sumo como fazia habitualmente.
Uma voz que reconheceu de imediato despertou-a. Chamavam-na.
Virou-se na direcção da voz e reconheceu-o. Começou a levantar-se quando o viu abrir os braços e aninhar-se. Na sua direcção correu a pequenina que vira a brincar.
Deixou-se cair. Colou-se á cadeira. Suspendeu a respiração.
Tinha-lhe dado, a ela, o seu nome.
Á filha que não tiveram juntos.
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