É aqui, neste silêncio que desdobro os pensamentos ao desenhá-los em letras no contorno das memórias que guardo de ti.
Costumavas fazê-lo com a ponta dos dedos a tocarem ao de leve no meu corpo. Pedias-me que te dissesse então o que decifrava.
Rias-te sempre do que eu dizia. Inventavas novas palavras e mantinhas a desculpa para continuar o jogo.
Lembro-me de sentir arrepios e de me contorcer quando tocavas em pontos mais sensíveis. Troçavas de mim.
Rias-te e fazias-me rir.
Agora, na viagem que faço, volto a fazer as mesmas brincadeiras. Desta vez sou eu que te faço adivinhar. E vejo-te em movimentos desconexos e a esconder a cabeça debaixo da almofada para que eu não te ouça e não troce de ti.
É quando te procuro lá que me apanhas desprevenida e soletras todas as palavras que nascem em ti ao meu ouvido.
Dizemo-las depois em conjunto lábios nos lábios. Em harmonia.
Uma a uma, até que não sobrem mais.
Deitados lado a lado de mãos dadas rimo-nos os dois de tanta palavra para inventar.
Sei que não as dissemos todas. Descubro-as agora na ausência que planta o silêncio que teimo em ouvir.
É no ouvido do vento que as sussurro. Serão tuas quando sentires a aragem a tocar-te o corpo. Onde estiveres.
Até lá peço ao silêncio que se faça riso. No teu.
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