Fechara-lhe a porta só depois de o ver desaparecer ao fundo das escadas. Do lado de dentro, encostou-se e deixou-se cair. Tinha-o em cada recanto do seu corpo. Podia cheirá-lo ainda. Fechou os olhos para o fechar também, ali.
Prolongar o momento. Eternizá-lo.
Não sabia quando o voltaria a ver mas isso não contava. Agora não.
Era com ele que ainda estava.
Levantou-se e percorreu a casa. Ouviu-lhe a voz recordou-lhe o riso. Deixara-lhe os ecos espalhados por cada divisão.
Aninhou-se na cama, deitou a cabeça na almofada que apoiara a dele. Era como se o sentisse ainda. Face na face. Vestiu-lhe o cheiro e a pele com pelos acabados de nascer. Arrepiou-se. Gostava de o ver com barba atrasada.
Passar-lhe a mão e sentir a urgência de o beijar. Em cada pedaço. Roer-lhe os lábios ao de leve, pressentir-lhe a língua a abrir caminho…
Não sabia que horas eram quando acordou. Lembrou-se que tinha uma reunião ainda pela manhã. Levantou-se e rapidamente tomou um duche.
Olhou-se ao espelho e sorriu. Viu os lábios marcados da noite anterior.
Tinha de disfarçar. Maquilhou-se. Nunca o fazia.
Vestiu-se á pressa e enfiou-se no carro depois de um café bebido a correr. Tinha ainda alguns papéis para ultimar.
Verificou no escritório se faltava alguma coisa e foi para a sala de reuniões.
Já estavam todos. Pediu desculpa, sentou-se.
Ele estava lá ao fundo. Impecável no seu fato e barba feita. Iniciou a reunião.
Não se lembra do que aconteceu.
Os colegas disseram-lhe que tinha estado muito bem. Apresentara o projecto com um brilho que não lhe conheciam.
Surpreendeu-se porque na verdade não estivera ali. Só se lembra da vontade de o olhar e não o poder fazer.
Em cima da secretária, um bilhete. Vejo-te logo? Quero!
Almoçou e tirou a tarde. Comprou um vestido preto.
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