Considerava-se um caçador. Mas na verdade também gostava de ser caçado.
Era o jogo da caça que lhe dava gozo.
Usava como arma o olhar bem apontado. Um olhar que não desfazia mesmo depois de confrontado. Aí começava o jogo.
Era como um feitiço que podia ou não resultar. Mas não deixava nunca de o lançar. Avistada a presa era preciso conquistá-la.
O tempo do contacto, a resposta ao olhar e os gestos que se lhe seguiam permitiam ver o êxito da caçada.
Vivia apaixonado por esses momentos.
Era delicioso vê-lo em acção. Podia estar envolvido no que quer que fosse e mesmo assim conservava-se atento. Deixava de estar connosco para partir ao encalço da presa.
E surpreendíamos os olhares e a postura perturbada de quem vê o que procura.
Feito o ataque, recebida a resposta, voltava a nós como se sempre ali tivesse estado. Apenas com mais brilho.
Raramente ia para além destas investidas. Procurava o prazer no prazer que causava.
Revitalizava e prolongava o prazo de carta de caça. Ainda o sabia fazer.
Mas quando era ele a presa deixava-se invadir pelos olhares e clamava com o seu o que se pudesse seguir. Abandonava-se ao caçador.
Deixávamos de o ver por um tempo.
Contar-nos-ia mais tarde que precisava de voltar a caçar. Não podia pertencer a ninguém.
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