Afogar-se. Deixar de respirar ou estrebuchar até vir á tona de novo.
Mas pelo menos por uns momentos, esquecer. Ser outra coisa qualquer, noutro sítio, doutra maneira.
Talvez assim se fosse o que a punha assim.
Saiu de casa. A princípio sem destino. Qualquer mar lhe servia.
O toque do telemóvel despertou-a, quase a assustou. Procurou-o para o calar, sem resultado. Parou o carro e esvaziou a carteira sempre cheia de inutilidades. Viu-lhe a luz impaciente. Atendeu.
Vem cá jantar. Preciso de estar com alguém.
Há muito tempo que não o ouvia e nem sabia dele. Que sim. Iria. Também lhe faria bem.
Adiou a viagem. O mar esperá-la-ia. Sempre lá esteve e nunca a abandonou. Hoje não iria aninhar-se no seu colo.
Deu meia volta e pouco tempo depois batia-lhe á porta. Achou-o cansado, triste. Mas a tristeza já lha tinha ouvido na voz. O cansaço sentiu-o no abandono e no olhar que conhecera sempre vivo.
Foi na cozinha entre os temperos e os odores que falaram. De tudo o que lhes vinha á cabeça. Sem nada dizer. Ajudou-o nos afazeres deixando os olhos entregues ao que fazia. Tinha medo de lhe cruzar o olhar. Tinham.
Entregavam-se ás ninharias. Apagavam assim escrevendo por cima. Como se nada mais houvesse e nada os pudesse afectar.
Jantaram. A garrafa de vinho tinto ficou vazia.
Levantaram-se e foi quando ele sem aviso a abraçou. Sentiu-lhe o rosto molhado. Soltava enfim o mar que em tempestade o habitava.
Desta vez foi ela que embalou aquele mar. Deixou-se afogar.
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