E-mail

Tinha uma vontade enorme de a abraçar. Um abraço forte de que sobrassem memórias. Talvez que ao fazê-lo se transpusesse de si quanto tinha para dar.
Talvez esse abraço a fazer-se colo fosse o ninho a que podia regressar em tempo de invernia. E fosse calor e luz.
No tempo do aconchego todas as dores se apaziguavam. Libertado o corpo da amargura haveria espaço para ver e perceber melhor.

Era um abraço assim que tinha guardado para ela.
Sempre que ela o quisesse. Mesmo que as forças então estivessem ausentes. Mesmo assim. Sentia que não lhe faltaria.
Como ela agora lhe faltava. Por estar tão longe!

Sentou-se na secretária e olhou o ecrã vazio do computador. A pouco e pouco desenhou em letras alinhadas o que sentia. Só o barulho das teclas lhe interrompia o correr do desejo que queria fazer real.
Foi com o manto estendido das palavras que a embalou no abraço que nascia dentro de si.
Tecido o manto, selado o abraço, mandou-lhe num e-mail.
Correu o tempo e o espaço e viu-a na sua frente.

Por agora bastava um abraço assim. Numa tela de palavras pintada.

Crescia-lhe a vontade para mais abraços.

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