Se bastasse...

Se bastasse desejar tudo seria sempre mais fácil.
Embora se devesse cuidar nos desejos a formular.

Apetece-me acreditar que por caminhos adversos se chega ao destino a que temos direito. Que apesar de tudo nada nos é negado.
Se tivesse a certeza disso aceitaria melhor o que a vida me traria.

São estranhos os desígnios da nossa caminhada.
Demasiadas as perguntas e poucas as respostas.
Muitas as lágrimas e parcos os sorrisos.
E dura tão mais a dor que o alívio!

Se bastasse viver e não pensar…

Quantas vezes!

A verdade está em tanto que se oculta como naquilo que se mostra.
E quantas vezes o que se mostra não é senão mentira.

Felicidade

A felicidade nasce da tranquilidade.
Semeia agora, colherás depois.

Um dia serás feliz!

Apesar de tudo

Tentar. É o que lhe resta e sobra.
Tenta sempre e sempre descobre que de nada vale.
Retoma ao princípio das coisas como se não pudesse fazer outra coisa.
E o ciclo reinicia-se. Inexoravelmente.
Com a mesma sede e a mesma ânsia volta a tentar.

Sabe que só o deixará de fazer quando não puder mais.
Mesmo que morra um pouco de cada vez que o faz.
Mesmo que a distância entre ser ou não ser o que tanto quer se apequene duma forma maior.

Apesar da dor que a pouco e pouco se instala e acomoda.
Apesar de tudo.

Esperaria

Tinha a vida plantada em mãos alheias.

Presa nas decisões de quem não as conseguia fazer. Não sabia por quanto tempo.
Sabia só que estaria lá numa qualquer esquina sem a poder dobrar.

Esperaria.

Audácia

Dela conhecia tudo.
Desde as tristezas ás alegrias, da dor ao alívio, da esperança ao não esperar nada.

Era-lhe límpida.

O que mais o angustiava era vê-la com a vida suspensa no medo que lhe tinha.
Faltava-lhe a audácia de ser completa. Antes de começar já tudo estava acabado e no entanto não deixava de sofrer.
Passava pela franja das coisas para não fazer parte de coisa alguma.
Chorava pelas perdas do que nunca tinha ganho.
E deambulava numa dolorosa insatisfação de não se deixar ser.

Entregara-se ao medo.
Agrilhoada, aí, via a vida esvair-se.
Porque não queria sofrer ia sofrendo

A ele, só lhe era permitido testemunhar.

Intervalo


Vida em câmara lenta,
Oito ou oitenta,
Sinto que vou emergir,
Já sei de cor todas as canções de amor,
Para a conquista partir.

Diz que tenho sal,
Não me deixes mal,
Não me deixes

No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Noticia do jornal
O quadro minimal
Sou eu

Vida à média rés,
Levanta os pés
Não vás em futebois, apesar
Do intervalo, que é quando eu falo,
Para não me incomodar.

Diz que tenho sal,
Não me deixes mal,
Não me deixes

No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Noticia do jornal
O quadro minimal
Sou eu

Não me deixes na
Historia que não terminou
Não me deixes

No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Noticia do jornal
O quadro minimal
Sou eu

No livro que eu não li,
No filme que eu não vi,
Na foto onde eu não entrei,
Noticia do jornal
O quadro minimal
Sou eu

Compositor: A. J, Santos

Dia a dia

Ficaram sentados no paredão a olhar o mar.

Há muito que o sol se tinha deitado e dormia agora na luz prateada duma lua enorme que iluminava a superfície calma do mar.

Neles o sono não se fazia sentir. Despertos e atentos sorviam o lento marulhar.
Dentro de cada um, em uníssono, o bater dum coração ritmado mas inquieto.

Ela sentiu-lhe os dedos na sua mão. Estremeceu. Um arrepio correu-lhe o corpo. Fechou os olhos.
Guardou em si o momento sentindo o peito expandir-se.

“E depois? Que faremos nós do que temos?
Tenho medo…Do que virá.
Promete que não sairemos magoados, aconteça o que acontecer.”

Ela não lhe respondeu. Teve medo do medo dele.
Das respostas que aconteceriam mais tarde. Preferia calar as perguntas, amansá-las para que não perturbassem o que sentia.

Continuaram olhando o mar. Tinham receio de cruzar os olhos e se perderem.
Amanhã…Pesava muito. Não queria habitá-lo ainda.
Preferia pensar no que tinha agora, sorver cada momento como se não tivesse fim.

Agora desejava só que Amanhã fosse igual. Mesmo que o mar que agora visitava em acalmia fosse de tempestade nos dias que viessem. Queria olhá-lo e sentir-se assim da mesma forma.
Senti-lo ali mesmo que estivessem em sítios diferentes. Ali no seu peito.

Prometeu-lhe em surdina que não. A dor e a mágoa não.
Já lhe queria tanto. Como o podia fazer?

O medo encontrou poiso naquela noite. Dentro de cada um deles.
Medo dum fim do que mal tinha começado.

Pudessem eles afogar o medo nas ondas mansas daquele mar e fá-lo-iam. Mas sabiam já que o mar devolve o que lhe é dado. Num tempo qualquer. Sem aviso.

“Dia a dia”, prometeram, “vivamos dia a dia”.

Lugares insuspeitos

Nada espera.
É o que sente. Nada mais.
Faz o que lhe dita a emoção.

Apenas isso. Sempre.

Por isso se surpreende quando lhe chega o que de si deixou.

Amostra imperfeita, rascunho inacabado é o que dá de si.
Á procura dos pontos e vírgulas na construção quase perfeita do texto que reescreve passo a passo.

Quando se mira no avesso dela com outros olhos. Olhos doutros.
Espanta-se.

Percebe que não existe por si. Que o É em retorno.
Pensada, lembrada…até amada.

E vê-se em lugares insuspeitos. Porque lhe querem assim.
Parte de alguém por algum tempo.

Por fim

Quando o ouve, percebe-se. Ouve-se.

Aninha-se no colo que a voz dele promete como se tivesse enfim encontrado, também ali, casa.
A sua casa.

Não precisa mais de sentir o cansaço de se tornar clara.
Transparece nas suas palavras

Saídas de lugar nenhum

As coisas ás vezes parecem saídas de lugar nenhum de tão inesperadas serem.
E no entanto têm todo o sentido.
São então a resposta que ninguém já espera. O sonho que se deixou de ter.

Pequenos milagres porque incompreensíveis.
Como se alguém vigiasse almas ou adivinhasse desejos.
Alimento de vida em cores e sabores antecipados servido por mãos invisíveis dum Deus qualquer.

É-se feliz pelo instante da dádiva.
E é quanto basta para avançar com a certeza de que um dia tudo se recomporá.
Os lugares passam a ter nomes e gravam-se na memória de quem sente.

Pedaço a pedaço a vida faz-se. O momento instala-se e constrói-se presente mesmo que o passado não o antecipasse.
Só a vontade expressa num desejo que tantas vezes se cala e o sonho que não se fez promessa se reconhece então.

Finalmente acredita-se na possibilidade das coisas mesmo que se pensem impossíveis.
Sabe-se num lugar pequenino dentro de nós que a vida vale a pena.
Mesmo quando parece alhear-se de nós.

The Voice Within

Christina Aguillera - The voice within

Young girl dont cry
Ill be right here when your world starts to fall
Young girl its alright
Your tears will dry, youll soon be free to fly

When youre safe inside your room you tend to dream
Of a place where nothings harder than it seems
No one ever wants or bothers to explain
Of the heartache life can bring and what it means

Chorus:
When theres no one else, look inside yourself
Like your oldest friend just trust the voice within
Then youll find the strength that will guide your way
Youll learn to begin to trust the voice within

Young girl dont hide
Youll never change if you just run away
Young girl just hold tight
Soon youre gonna see your brighter day

Now in a world where innocence is quickly claimed
Its so hard to stand your ground when youre so afraid
No one reaches out a hand for you to hold
When you look outside look inside to your soul

Chorus

Life is a journey
It can take you anywhere you choose to go
As long as youre learning
Youll find all youll ever need to know
(be strong)
Youll break it
(hold on)
Youll make it
Just dont forsake it because
No one can tell you what you cant do
No one can stop you, you know that Im talking to you

Chorus

Young girl dont cry Ill be right here when your world starts to fall

Um abraço assim

Apetecia-lhe um abraço. Um abraço que estivesse á espera dela adivinhando-lhe a sede.

Deixar-se-ia abraçar e ficaria aninhada. Seria outra vez criança.
Sem conjugar tempo algum.
Presa ao momento que se debruça sobre ela com olhar terno e atento.

Calada far-se-á ouvir. De olhos fechados verá melhor.
Porque alguém velará por ela.
Só precisará de sentir. Deixar acontecer.
E ficar enrolada no abraço que se lhe oferece. Como se sempre lá tivesse estado.
Á sua espera

Apetecia-lhe um abraço. Um abraço assim

Falava

Falava.
Deixava que as palavras que se estendiam á sua frente falassem de si.
Finalmente desamordaçava a torrente imensa de coisas de si silenciadas tempos sem fim.

Seguia o rasto que elas deixavam á procura das respostas que agora ansiava. Esperava-lhes o eco…

Sentia-se agora mais leve mas mais indefesa também. Mostrava-se.
Baixava a guarda e temia.

Que não encontrasse o caminho ou não tivesse forças para o seguir.

E no entanto falava.
As palavras soavam-lhe a coisa estranha.
Como se não saíssem de si ou há muito habitassem espaços desconhecidos.

Falou até esgotar o barulho que a habitava.
Deitou-se no silêncio que ficou. Descansou por fim.

Um dia, viria o que esperava. E traria consigo a cor das palavras que agora estendera.

Naquele momento

Naquele momento não soube o que fazer.

Como ser sem deixar de ser para que tudo encaixasse, tornava-se dúbio.
Sabia o que sentia e como lhe nasceram dentro de si as pequenas coisas que a deixavam assim.

Faltava-lhe a certeza dos gestos e das palavras.
Como se tudo o que tivesse aprendido, agora, não lhe servisse de nada.

Tudo o que fizesse mostraria parte dela. Nas formas que os outros entendiam desenhar-se de si.
Outras partes se perderiam e no entanto não se escondia.

Tinha acontecido já doutras vezes. Nem os gestos ensaiados, as palavras decoradas a podiam ajudar.
Nunca. E seria sempre assim.

Há sentimentos que temos dificuldade em vestir embora sejam feitos de nós.

Empatia

A empatia sente-se, não se vê.
É um prolongar nos outros que retorna de mansinho. E entranha-se.
De olhos abertos ou fechados.

Porque a alma nem olhos tem.

Caminha


Caminha. Não importa onde nem para onde.
Importa que caminhe.

Para trás estão, em baús perfumados pelo tempo, rotas percorridas, bússolas, astrolábios e sextantes.
O que a levou ali.

Caminha livre de outras vontades para onde o futuro fica. Sabe-se lá onde!
Um passo atrás doutro.

A pouco e pouco faz da estrada que leva a vida que tem.

Cúmplices

As coisas ás vezes não se planeiam. Acontecem por si.
Os caminhos cruzam-se entre paisagens de palavras, sons, imagens, cheiros e gestos.
Podem ser protagonistas imagens e palavras e o encontro perfeito quase esperado mesmo sem anúncio.

Nos dois a vontade latente de conversas e silêncios com as palavras que nascem da terra e sobem ao céu enroladas em árvores a espreitar precipícios que correm para o mar.
Dum vem o olhar, atento, desperto. Um olhar d’alma, limpo e transparente.

Do outro a palavra simples, sentida que lhe escorrega da boca vinda não se sabe de onde em ânsias de liberdade.

Cúmplices neste encontro assumem-se culpados

A promessa

Confesso que a promessa que pressenti me falta saber cumprida.

Sabê-la parada no tempo em que a sonhei, sem fruto, amordaçada por outras vontades que não senti eu, aperta um nó dentro de mim

Tenho saudades do futuro anunciado.

Eu

O dia a dia traz-me o amanhã.

Construída em passados que não lamento, fiz-me o que sou!