Audácia

Dela conhecia tudo.
Desde as tristezas ás alegrias, da dor ao alívio, da esperança ao não esperar nada.

Era-lhe límpida.

O que mais o angustiava era vê-la com a vida suspensa no medo que lhe tinha.
Faltava-lhe a audácia de ser completa. Antes de começar já tudo estava acabado e no entanto não deixava de sofrer.
Passava pela franja das coisas para não fazer parte de coisa alguma.
Chorava pelas perdas do que nunca tinha ganho.
E deambulava numa dolorosa insatisfação de não se deixar ser.

Entregara-se ao medo.
Agrilhoada, aí, via a vida esvair-se.
Porque não queria sofrer ia sofrendo

A ele, só lhe era permitido testemunhar.

Sem comentários:

Enviar um comentário