O meu país

Amontoava-se tudo duma forma desordenada. Tanto para fazer e tão pouco tempo para o desfrutar. A pilha crescia e com ela a angústia de não lhe saber o fim.
Apetecia-lhe parar. E que com ela parasse tudo. Num passe de magia.

Imaginava-se a olhar de cima calmamente. A descobrir as coisas de que perdera o rumo no meio de tanto tempo a construir. Aí deslocaria mentalmente as coisas para o lugar devido. Num mapa que desenhava a pouco e pouco estabelecendo as coordenadas com minúcia.

Algumas coisas incomodavam-na. Sempre o tinham feito. Olhá-la-ias agora do sítio em que se pusera. Afastada. Assim permitia-se vê-las de todos os ângulos. Não se deixando afectar. Afinal tudo acontecera já. Num momento qualquer. Só a marca ficava. Iriam para um lugar que já estava programado no mapa que criara. Num país de reciclar. Num país de recomeçar.

Sorria ás coisas que deixara de ver e julgava perdidas. Acarinhava-as e depositava-as com cuidado dentro de si. Fá-la-iam caminhar. E sonhar.

Quando tudo voltasse a andar tinha a certeza que continuaria a criar pilhas de coisas desordenadas. Que um dia arrumaria mesmo que a magia de parar não acontecesse.

Sabia no fundo que era vida que construía. E não há planos que previnam a desarrumação que ás vezes se instala.

Há só uma alma com a dimensão imensa de países por povoar.

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