Arrependida

Combinámos encontrar-nos, senti-lhe a urgência na voz. Sabia que alguma coisa não estava bem. Apressei-me. Encontrei-a já á minha espera numa postura impaciente. Senti-a triste, faltava-lhe o brilho que sempre lhe conheci. Mal me deixou falar. Pedia-me ajuda, que a ouvisse…

Não sabia já o que fazia e quando fazia acabava por achar que não o deveria ter feito. Como agora.
Estava já arrependida e olhava-me em súplica como se eu pudesse fazer voltar o tempo atrás. Arrependida de se ter denunciado.
Dissera-lhe que não entendia como ter-lhe dito das saudades dele o tinha feito perdê-lo.
Como sentir a falta dos risos, das cumplicidades, das horas perdidas em conversas sem rumos, a tinha feito ficar á deriva num mar em que já não navegava com ela.
Do vazio imenso que tinha ficado no lugar que antes enchiam de coisas a eito. Um vazio árido onde faltavam razões.

Uma lágrima teimosa escorre-lhe cara abaixo. Disfarça-a com um trejeito que lhe conheço. Digo-lhe que a deixe correr. Precisa de o fazer. Continua.

Acabou tudo duma forma abrupta como se de repente um precipício se tivesse aberto e tivesse engolido o que era de nós.
Ainda acordo a pensar que tudo pode ser um pesadelo, que pode ser mais um intervalo com uma causa que um dia entenderei e de que não me dei conta.

Fixa o olhar na distância como se a resposta pudesse vir daí, dum qualquer lugar. Deixo-a esperar. Sei que o tempo lhas dará um dia. Mesmo que não sejam as que espera. Virão.

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