O quarto 905

Não tinha a lógica dos números que conhecia doutros quartos noutros sítios. Mas tinha uma outra qualquer. Podia ser o quinto quarto dum conjunto de nove, em que as camas eram de uma só pessoa. Assim ficava rodeada de gente sozinha, sem companhia. Pelo menos era uma hipótese. Apostou nessa. Sentiu-se acompanhada.
Despejou em cima da cama tudo o que trazia e abriu as gavetas da cómoda, começou a arrumar tudo metodicamente. Deu por si á procura de estantes. Os livros que iam chegar precisavam de respirar num espaço adequado. Teria de comprar e pôr ali enquanto não encontrasse um sítio adequado para se poder esticar á vontade.
Ficou tudo cheio num instante. Em cima da cama, na colcha agora amarrotada ficaram as marcas de tudo quanto agora se escondera. Ainda havia dois ou três sacos cheios mas não havia pressa. O cansaço apoderara-se dela. Enroscou-se debaixo da colcha que puxou até ao pescoço por culpa dum súbito arrepio e deixou-se dormir mesmo vestida.

Acordou e sentiu a cara molhada. Tinha-se babado. Adormecera de boca aberta. A maldita alergia aos pós que andavam pelo ar taparam-lhe o nariz e não a deixavam respirar em condições. Além da baba tinha a marca da roupa da cama. Sentia-se enrugada. Espreguiçou-se e a súbita vontade de urinar levou-a á casa de banho que ainda não tinha visto a preceito. Apeteceu-lhe o banho. Correu a cortina do chuveiro e desejou uma banheira. Contentou-se com um banho em pé encostada á parede ainda fria deixando-se amolecer pela água em jorro forte e quente. Acabou por se sentar e deixar ficar apertando as pernas com a cabeça em cima dos joelhos. Choveram-lhe as recordações da viagem e do que havia ainda a fazer.

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