Apaga a luz!

Apaga a luz e dorme!
Ainda não acabara de dizer as ultima palavras da sua oração nocturna, anjo da guarda minha companhia guarda minha alma de noite e de dia. Vinham-lhe á cabeça a imagem do anjo com grandes asas a proteger uma criança com caracóis soltos como os seus e sentia-se já protegida.
Todos os anjos de que tinha lembrança eram bonitos. Nunca poderia ser um anjo noutra vida se ela existisse. Mas uma criança rabina e inquieta seria. Tinha a certeza. Nada a satisfazia. Tudo a fazia ir mais além, descobrir mais e mais sem nunca parar.

Então, ainda acordada?
Aconchegava-se melhor e antes de apagar a luz puxava para junto de si a imagem da santa que era iluminada noite e dia por uma lamparina alimentada por azeite. A velinha cor-de-rosa boiava á sua superfície e espalhava nuances de luz no corpo esbelto da santa. Sim, também as santas eram bonitas e perfeitas como os anjos. Restava-lhe velar-lhe para que não lhes faltasse a luz.
Em troca desfrutava da possibilidade de viajar para outros lugares nas folhas dos livros que abria e devorava quando apagava a luz que tinha de poupar.
Ás vezes quando as histórias acabavam deixava-se ir ao encontro das sombras disformes que criavam personagens nas paredes do quarto até vir o sono devagarinho.
Ali era tudo o que a imaginação a deixava ser. Num tempo só dela.

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