Desejo

Sentiu a urgência na vontade. Uma pressa que crescia no desejo que de repente sentiu. Dela.
Ligou-lhe. Ouviu o telefone tocar repetidamente.
A paciência corria com a velocidade do desejo Uma fugia outro instalava-se.
Desligou. Iria vê-la. Não lhe bastava a voz. E era esta que sempre lhe acendia a chama que o consumia agora. Desta vez bastou-lhe a lembrança. Daquele gesto que o fez olhá-la pela primeira vez. Quase um espreguiçar. Um deitar de cabeça apoiado nas costas da mão a correr-lhe para o cabelo, rodopiando suavemente até pousar de novo no cabelo que trazia para cima do ombro. A voz viria depois. Para o prender.
Ficou no carro. De repente achou que nada fazia sentido.
Lembrou-se que talvez ela não estivesse em casa. Que estivesse afinal com ele. Noutro lugar. Num lugar que nunca seria o seu.
Decidiu arrancar. Viu-a a cruzar a esquina. Sozinha, carregava alguns sacos.
Hesitou em abrir a porta. Afinal viera vê-la. Saiu.

Não sabe como fez o caminho até casa. Na cabeça rodopiava a imagem do sorriso aberto que lhe vira quando lhe abriram a porta de casa. Soube que teria de se ir embora.
Embrulhou o desejo no peito agora amarrotado.

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