Um rio


Quando olhavam para ela viam-na diferente do que realmente era. Não se interrogavam mais porque lhes sabia bem o que sentiam.
Um ar calmo e sereno, a rapidez na resposta e a fórmula que procuravam, a descoberto. Bastava-lhes o que ela lhes dizia e a forma como o fazia.
Finalmente a segurança.

Os remoinhos que dentro dela cresciam a cada momento não se vislumbravam no olhar. Nem as lágrimas que chorara se deixavam adivinhar no sorriso.

Porque teriam os outros de a saber ler se nem ela o sabia?

Descobria-se nas palavras que os outros lhe ouviam. A pouco e pouco fazia-se. Cada palavra era tijolo na construção que sentia.

E quando lhe pedia que falassem de si não o sabia fazer. Não era ainda coisa nenhuma. Era tudo e nada e isso não se podia definir. Era o tempo que passou, o momento e o tempo que estava para vir. Era o que foi e o que seria. Entre tempos.

Sentia só um rio a correr dentro de si. E a crescer.
Um rio que um dia encontraria a foz.
Seguia a corrente. Sentia-a.

Era aí que se afogava e aí que renascia.
Um dia seria rio também, enrolado nas ondas dum qualquer mar.
Saber-se-ia então.

E os outros? Que importa que soubessem dela?
Melhor seria se depois dela soubessem mais de si!

Sem comentários:

Enviar um comentário