Até um dia...

Vive agora no avesso das coisas.
Adormecido no cotão das costuras duma vida que lhe sabe a coisa nenhuma.
Esqueceu o sabor das vontades e perdeu os desejos que nasciam em si.
Diz-se sereno mas sabe que o que sente não é paz mas falta de alimento. Ou de um qualquer tempero que por falta de mão não se juntou ao que tem.
Deambula no fio dos dias num equilíbrio instável entre tudo e nada.
Não sabe por quanto tempo, talvez para sempre.
Não se lembra há quanto tempo. Talvez desde sempre.
E a quietude instala-se a pouco e pouco por todo o corpo agora anestesiado.

Até um dia o inesperado acontecer e uma primavera ousada rebentar dentro de si.
Primeiro em murmúrios.
Depois em cânticos fortes que não poderá calar.
E dançará mesmo que nunca tenha aprendido

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