A carta

No meio das contas e de tanta coisa á solta, ela lá estava.
Num envelope azul as letras desenhadas esperavam por ela.
Abriu-a em surpresa. Há muito que não recebia cartas assim. Há muito que já não esperava nada.

Dentro as palavras sufocadas no aperto do invólucro pediam-lhe que as ouvisse.
Espalhavam-se ao longo das páginas que agora desdobrava. Reconheceu-lhes a forma. Um enovelado de que não perdera memória.

E desfilaram imagens que julgava apagadas.
E sentiu arrepios que lhe turvaram os olhos.

Sentou-se logo ali, num degrau. Encostou-se á parede. Sentia-se tonta.
As palavras dançaram por instantes.

Tantas foram as imagens que ali se cruzaram… As vontades renascidos…
Apertou a carta contra o peito num abraço em que o envolvia também. A ele.

Não. O tempo nada havia apagado.
Nem o tempo, nem a distância. Bastara um envelope azul e estavam juntos outra vez.

Sim, meu amor, ainda estás dentro de mim!

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