Decisões

Desde muito cedo, logo que achei possível, deixei nas mãos da Margarida decisões simples. Gostava de a fazer pensar e tinha curiosidade em ver até que ponto ela conseguia ajuizar e acertar nas decisões.
Surpreendi-me sempre. Mostrava uma cautela e um cuidado invejável. Pesava tudo com muito cuidado. Deixava muitas vezes de lado as coisas que lhe garantiam um maior prazer em troca da satisfação dum dever cumprido.
Pedia-me sempre ajuda, que não lhe negava. Ponderávamos muitas vezes em conjunto as situações. Mas era a ela que cabia decidir.
Muitas vezes lhe via tristeza. Mas o resultado final acabava por compensá-la. E então, orgulhosa, dizia-me " Ainda bem que tomei esta decisão, não estou nada arrependida!"
Era a leveza do resultado das suas decisões que a empurrava para o caminho certo. E os passos pequenos que dava ainda preparavam-se para crescer com alguma segurança. Conhecia os caminhos, porque tinha o cuidado de os tentar perceber ainda antes de os calcorrear. Levava o seu tempo nas decisões. Ás vezes quase se perdia na ânsia da resposta. Mas não tomava atalhos.
No fim, sabia que era ela o motor da sua vida. E que era capaz! A ninguém devia o que alcançava.

Um dia, confessou-me que esta minha atitude a tinha feito sentir maior, mais importante. Crescer. Mas que tinha sido uma das coisas mais dificeis que eu lhe tinha "deixado" fazer.
Ser livre, poder decidir, parecia ter-lhe facilitado as coisas. No entanto foi o contrário que aconteceu. Tudo começou a ter peso e valor. Conta e medida. Cada acto seu seria reflexo em si ou nos outros. E não porque lho mandassem fazer, mas porque ela o escolheu fazer!

Ela tinha na sua mão o poder da sua vida e dos seus actos. E por consequência a dos outros.
E era tão dificil, tão pesado e enorme ás vezes!

Tenho agora o dobro da idade dela. E sinto da mesma forma!
E ás vezes apetece-me que sejam os outros a decidir. Não para que sejam eles os responsáveis.
Mas para poder ser só a menina obediente que faz o que lhe mandam sem pensar.
Porque muitas das minhas decisões me deixam triste e são em prol dum bem maior, que não é o meu!
E só se torna meu se souber, que apesar de tudo, alguém fica feliz!
Porque assim terá valido a pena.
Se carregar na memória gente feliz, todas as minhas decisões terão sido bem tomadas, sei disso!

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