Como um girassol

Não queria ainda acreditar. Começava no entanto a senti-lo. Mais que das outras vezes. Mais do que nunca quisera ou pressentira.
Conhecia-lhe já os afastamentos. Dizia-lhe, ela, que se resguardava. Que se escudava na distância e no silêncio por não suportar o dele.
E ele já nem sabia porque o fazia. Nem se dava conta de tal. Perdera-se há muito num espaço para que fora atirado pelos desencontros de amores há muito perdidos.
Quando a conhecera, fora a sua alegria que o fizera por a cabeça de fora e ter vontade de aí ficar. Agarrava-se ás palavras, ao riso, ao encanto que dela emanava e sentia de novo força dentro de si.
Gostava de tudo nela. Era a mulher que ele sonhara em todas as que tivera.
E disse-lho. Muitas vezes.
Foi mágico e surpreendente o que sentiram. Dum tamanho que ele não abarcava. E teve medo.
Assim como se abriu, assim se fechou. Deu-se e escondeu-se. De novo.
E ela afastava-se também. Dando-lhe o espaço que ele temia perder. E perdia-o.
Porque ele se aninhava na aridez que reconhecia como sua morada.
E sabia que a amava. Que a queria. Que um dia renasceria e a iria procurar. Faria tudo para a ter de novo em si.
Ela só tinha de o amar sabendo que ele não estaria com ela. Como se não existisse e no entanto lá estivesse. E fê-lo. Amou-o além doutros amores. Que a mereciam.
Até ser possível. Até ele deixar de ser sombra nela.

Agora ele sentia-a longe para lá dele e da esperança a que não dera alimento.
Perdia-a de vez. Esgotara o tempo, as esperas... Escondia-se no deserto que fizera de si. Fazia-se sombra e noite só.
Do outro lado via-a virar-se como um girassol para a luz doutro amor que lhe punha os sorrisos que o fizeram amá-la.

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