Coração imperfeito

O coração que carrego no meu peito, não é perfeito.
Sempre o soube. É um coração de gente ainda a crescer.
Fala uma língua de afectos que a razão desconhece. E, ora, fica mudo na dor de não ser entendido. Ou exuberante, na traquinice da irreverência que lhe sinto

Tem o tamanho de todos os outros corações que conhece. A forma é também a mesma.
Quem o vê não suspeita das ventanias que o correm. E ele não as sabe contar.
São por vezes carícias que o amolecem. Suaves e quentes.
Doutras, rabanadas estonteantes que o deixam em desnorte.
E quando se cruzam os ventos, encolhe-se em refúgios apertados, longe das portas que tem abertas para o mundo.
Tem medos a povoá-lo. Sombras, fantasmas que pressente e não reconhece.
Mas não os mostra a ninguém.
Muitas vezes, sem aviso, ergue-se com força insuspeita. Enfrenta os vendavais. Olha-os de frente sem raivas. E deixa-se atravessar pelo que a vida lhe traz.
Sabendo ainda tão pouco!

Não quer crescer este meu coração!
E deixa-me perdida em sentires que se contradizem. Desorientada entre a lágrima e o riso.
Algures entre a alegria e a tristeza. Em revoltas que a calma não embala.
Mesmo que o mande ser grande, do tamanho que lhe sonho, recusa-se e bate forte num barulho ensurdecedor.
E faz coisas que não lhe entendo, este coração sem dono.

Coisas de gente imperfeita.
E reconheço-o então!

Sem comentários:

Enviar um comentário