Ás vezes

Ás vezes perdemo-nos do mundo dos afectos. Das memórias em nós, dos amores que um dia nos fizeram felizes e nos deram o rumo que nos trouxeram ao lugar que pisamos.
Aí vagueia-se entre os dias e as noites, num suceder sem destino. Em desencontro.
Num sem saber de quê.

Ás vezes é um amor a coisas longinquas que nos planta a esperança no vazio instalado. Tudo parece mais fácil e próximo mesmo distante. Recomeçar tem o sabor da subida ao ventre da terra mãe. Volta o aconchego, o sonho e o sorriso cresce nos lábios. As palavras desenham histórias que se partilham.

Ás vezes, há quem as escute porque as procure também. Sedento, procure oásis num deserto que deixou crescer. E nesse encontro se desenhem anéis em crescendo.

Ás vezes um tem medo, mas vontade. Está preso, mas livre. Entre um lado e outro abraça sequioso e atento. Embalam-se no encanto das viagens que sonham e quase tudo é real. Os olhos brilham. A voz exalta. A vontade cresce.

Onde a esperança fora plantada outra semente é lançada.

Ás vezes não basta semear. Nem cuidar. É preciso que haja vontades. Mais do que uma.
Ás vezes há quem só semeie ventos de paz e acalmia num coração cansado de tempestades. Há quem tenha um coração em pousio.

E a semente não cresce. Hiberna.

Ás vezes, no desenho do futuro, alguém acrescenta um traço que o altera como rabanada de vento, na sementeira que se faz.

Ás vezes só nos resta guardar a semente dentro de nós. Alimentá-la, aninhá-la como se fosse só nossa.
Preservá-la na memória dos sentires que ás vezes se perdem e não se sabem.
Ter a certeza que vai acontecer de novo.

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