E os homens...

Casara muitas vezes e de todos se descasara. Não com a leveza que as palavras têm, mas com o peso que apesar de tudo encerram.
Casou de todas as vezes para sempre e descasou para nunca mais. Fazia as coisas todas assim. De forma definitiva.
Por mais dor ou tempo de agrura punha-lhes ponto final.
Não lhes virava as costas. Não se escondia delas embora ás vezes lhe apetecesse fazê-lo. Afundava-se então num estado de miséria indescritível que sacudia cansada após algum tempo. Era das memórias desse tempo que fugia para abraçar outras formas de estar com quem lho merecia. Com ela própria também.
Não acolhia ódios, passava-lhes ao lado e não lhes dava ouvidos. Preferia deixar dentro de si os amores e largava os desamores em lugares perdidos e sem memória.
Os homens faziam parte da sua construção enquanto mulher.
Era agora o que fizeram dela pelo bem e pelo mal. Era a soma do que de si fizeram e do que sempre fora. A todos devia da forma que dera. Também neles se perdera da forma que se encontrara.
Ah! Os homens…
Uma parte da vida de Dulcilena. A das paixões e dos desencantos.
Dos encontros e desencontros. Das almas gémeas e das que nem por isso…

Em cada homem viveu uma vida diferente e conheceu-se doutra forma.
Foi tantas mulheres como quantos homens teve. E mais seria se mais tivesse.
Era essa imprevisibilidade que ela descobria e de certa forma fascinava quem a tinha. Descobria-se sempre outra. Nunca sendo a primeira ou a última.
Todas as vezes e sempre eram como a primeira. A descobrir, a explorar, a sondar por território em constante renovação.
Não soube nunca mais que ninguém sobre os homens. Também eles eram, como ela, diferentes e imprevisíveis. Nunca deixou de acreditar na felicidade com um companheiro. Por isso continuava a casar. Um dia… Talvez fosse para sempre.
Dulcilena ficava bem com os “sempre” que ia tendo. Achava que “sempre” era enquanto durasse. E valesse a pena. E aprendesse de si e dos outros. O importante era não perder a esperança e a vontade de ir mais além de si própria.

Sem comentários:

Enviar um comentário