Desejo antigo

A morte era um desejo antigo que lhe habitava as entranhas.

A vida era um ofício difícil do qual não percebia ainda as regras.

Sabia da morte e do que sentiria. Um dia quase por lá ficou.
Conheceu-lhe o rosto e a paz que dele emanava. Sentiu-se serenar por fim.

Mas tinha prazos e compromissos que a faziam ficar embora sentindo o desejo de partir.
Cumpria dia a dia, passo a passo, a rotina que os tempos lhe traziam.
Valiam-lhe os sorrisos e os abraços de quem amava e só por eles não se deixava mergulhar no desejo que crescia cada vez mais forte.

Mas quanta vontade de se deixar ir! E tanta coisa ainda a fazer!

Na dura aprendizagem da vida, perdia-se em caminhos de tristeza e amargura que disfarçava (e sabia tão bem fazê-lo!) nos sorrisos que plantava no rosto.

Um dia, não muito longe, deixará que o desejo a possua e o sorriso que agora força, virá ligeiro e aberto.
Porque afinal, a morte é um desejo antigo que lhe habita as entranhas.

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