Perdia a cor dos sentimentos. A cor e o sabor que um dia lhes sentira.
Vivera tudo com uma acuidade tísica no limiar quase invisível, imperceptível que a deixava abandonar-se em estados em que ficava perdida de si num universo de fundo caleidoscópico onde as cores e as imagens se desdobravam e as coisas que sentia se multiplicavam indefinidamente duma forma irreal e sempre diferente.
De tantas vezes ficar sem saber de si, partida em cacos que apanhava de mãos feridas e coração magoado, desconheceu-se, morreu. Muitas vezes, repetidamente.
Tinha uma casa de espelhos. De luz. Gostava de a ver reflectida. Gostava que as coisas se olhassem. Fossem outras...Mais.
Não gostava das histórias que os espelhos lhe contavam. Fazia-lhes ouvidos moucos.
Como começou a fazer com tudo.
Sabia que as histórias estavam lá. Mas não tinha de as ouvir.
A dor também existia. Não tinha que a sentir.
O amor? Também. Deixaria que acontecesse e passasse devagarinho.
Não lhe daria confiança.
Acreditar, ter esperança?
Acreditava que tudo acaba um dia. Acreditava que não devia nunca esperar demais. Ou esperar sequer. Assim tudo o que tivesse era bom. E bastar-lhe-ia.
E o que sabia das histórias…. Era que todas tinham princípio e fim.
Um dia acordou assustada com medo de não mais sentir.
Porque sentia agora devagarinho. Com as armas que sem se dar conta tinha vestido. Para não se quebrar nunca mais!
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