Escuto-me aqui

Não gosto de dar sons que é a mesma coisa que dar voz ás coisa que me povoam. Nem gosto de as pincelar porque assim ganham cor e tenho-lhes medo.
Prefiro-as apagadas e mudas até que a coragem cresça e as enfrente com a força que devo ter para o fazer.
Até lá embalo-me e embalo-as para que se aquietem. Para que não perturbem este caminhar a que me obrigo. Este acordar ciclico que me persegue num ritmo diário até á exaustão.
Ou até que a paixão pelas coisas volte a instalar-se neste peito adormecido pelas pancadas repetidas de desilusão vividas, esperanças apagadas e medos á solta.

Mas se algum som aqui tiver que guardar, há-de ser o do riso duma criança ou o teu. O da tua voz em murmurio, um suspiro. O som dos teus passos a chegar. o bater do teu e meu coração em uníssono.
Só a esses darei abrigo. Aos outros expulsarei. Ou calarei enquanto puder!

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