Hoje sonhei

Hoje sonhei. E sei do sonho que sabe da minha vida e me sabe também.

A noite, dentro da noite do sonho, começava-se a fazer-se devagar. As cores que se punham, alongavam-se para além do espaço que alcançava.
Puxavam-me até si. Lentamente. Flutuava...
Enfeitiçada deixei-me abraçar nos castanhos, laranjas, amarelos torrados, que me aqueciam e deixavam leve. Como se fosse um balão e voasse ao ritmo de brisas suaves e ternas.
Música, sim , havia música. Não me lembro qual. Mas tudo era sintonia. Era a que deveria haver!
E gente, havia gente também. Que rodopiava em coreografias perfeitas. Alguns rostos familiares. De memórias felizes.
De coisas repetidas, vividas doutra forma. Senti-lhes as vozes e as palavras ganharam sentido.
O mar estava lá. O meu mar. Dum pulo alcancei uma ilha donde tudo podia alcançar. Via sem ser vista.
Apeteceu-me guardar tudo e tanto para sempre. Procurei a minha máquina fotográfica. Vasculhei tudo que nem imaginava ter levado. Não a encontrei.
Tinha de voltar atrás. A um tempo e um sítio onde ela estivesse. E correr. Regressar a tempo do tempo não ir embora. Aquele tempo!
Atirei o pulo. Fiquei no vazio. O mar perdia-se num abismo que não estava lá antes. Tudo estava distante e pequeno. Restava-me a queda. Tudo acabava ali, assim.
Impossível voltar atrás...

Lembrei-me no sono que sonhava. Deixei-me domir, mas fazer do sonho o que queria.
Voltaria atrás. Desceria mil degraus ou o que houvesse a fazer. Iria buscar o que nunca deveria ter deixado para trás.
Fi-lo num corropio incansável.

E a preguiça da noite a desfazer-se. E a vida a acontecer.

E eu corria e passava ao lado das coisas sem as ver. Para agarrar um momento que já não era. Que nunca mais seria!

Agora carregá-la-ei comigo sempre. Disse-mo o sonho.
Testemunhará tudo e fará eco das coisas que sei e vivo.
Porque não posso editar a vida como o faço nos sonhos. Porque tudo o que acontece tem um único tempo.
Tempo que não se compadece do valor que esquecemos de lhe dar. E que se esgota. E que nunca se repete.

Estar de corpo inteiro, mala feita, bagagem completa, é o desafio!

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