O sono num sonho

Lembro-me de pensares nos sonos tranquilos que me sentias.
E de os quereres para ti também.

Viravas-te e falavas adormecido. E eu dava-te o espaço que nunca me pedias.
Respondia-te baixinho e selava-te as vozes, com os meus lábios nos teus, de mansinho.
Estremecias, serenava-te. Queria-te, como agora te quero. Bem.
Sabia. Sempre soube dos fantasmas que te habitavam.
Dos nomes que tinham e do que tinham plantado em ti.
Nunca lhes tive medo. Não cabiam no meu mundo. Não havia para eles lugar.
O que lhes podia dar não os alimentava.
Disfarcei-te de mim. Em todas as noites que não dormi e te quis ensinar a dormir.
Vesti-te o meu sorriso, bordei-te de ternura com os poucos gestos que sei.
E não lhes deste guarida. Nunca mais. Porque se perderam de ti.

Tens um sono tão doce e sereno, dizias-me.

Num sonho em que finalmente me enrosquei dormia, sim.
Mas só aí. Até lá, olhava-te pela noite fora.
Incrédula de te saber ali, comigo. Apesar de tanta coisa!
E porque te era necessária. Me era vontade.

Agora, que te ouço assim, meu sonho é um futuro desenhado num lugar que me apetecia conhecer.
Onde não se sonham sonos. E não habitam fantasmas.
E dormimos tu e eu. E são os sonhos que se aninham em nós.

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