Ele

Tinha o hábito dos pequenos gestos. Das coisas simples.

Ás vezes, de muro em muro, apanhava flores silvestres e fazia com elas um raminho. Oferecia-lho, a ela. Sempre sorrindo.

Outras vezes o cheiro do café fresco entrava-lhe pelas narinas, acordando-a. E lá estava ele pronto a dar-lhe o primeiro beijo.

Na gaveta, em qualquer gaveta, dobrado a um canto encontrava sempre pedaços das coisas que ele sentia. Em bilhetes com a sua letra desenhada. Amor, só.

Estás bem? Mesmo estando. Só para a ouvir e confirmar. Queria-lhe muito.

Compunha-lhe a gola, desviava-lhe a franja, pegava-lhe nas mãos e beijava-as. Um dedo após outro.

E o abraço no corpo cansado a reconfortá-la.

Via-a adormecer e julgava-se pequeno para tanto que lhe queria dar.
Ajeitava-lhe a roupa. Antecipava-lhe os movimentos. Deixava-a encaixar no seu colo.
Ao ouvido, no silêncio da noite, dizia-lhe outra vez que a amava.
Aconchegava-a e deixava-a sonhar.

Um dia, ele, partiu sem aviso.
Sem o mais pequeno gesto. Da forma mais simples que encontrou.

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