A porta

Devagarinho a porta fechou-se atrás dela.

A luz do sol cegou-a. Virou a cabeça, baixando-a e fechou os olhos.
Abriu-os depois quase a medo.
Não estava habituada a tanta luz. De onde vinha desabituara-se duma claridade assim. Franca, aberta, decidida.
No entanto desejara-a. Porque tanto se quer o que não se tem!

A escuridão alojara-se dentro dela, húmida com cheiro a noite. Há muito, demasiado tempo. Esquecera como era estar doutra forma.
E as memórias foram sonhos, tantas vezes! Nem assim bastaram para o que agora aí vinha.

Avançou num passo incerto. Sentiu o calor a arejar-lhe as noites que nela tinham pousado. Sacudiu-as.

Ficaram na sombra que agora se fazia de si. Apesar da luz não a deixaram.
Memória do que era no chão que agora pisava.

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