D'Amizade

Magoou-a de ferida aberta. Retorcida, moída, escancarada. Aos olhos de todos. Sem dó.

Sem contar, apanhada no meio duma tempestade que nascera em coração alheio, dobrou-se na dor sentida. Num turbilhão de emoções, afunda-se no buraco que sente crescer em si. E cai em rodopio, numa tontura sem fim. Nos olhos agora doridos não passa a luz. Uma névoa cerrada devolve-a á estranheza dum golpe assim. Como? Porquê?
E as respostas tardam, porque não as há. Só a maldade pura sustenta um golpe assim. E lhe dá forma sem razões.

Sente-lhe o sorriso cravado nas costas. Os olhos, vigilantes, nos gestos que enuncia. Á procura duma mulher derrotada. Em busca da sua vitória.

E é aí, onde lhe procuram a fraqueza, que vai buscar a força. Uma força indomável. Maior que o seu próprio tamanho. Maior do que alguma vez pensara poder ser.
A força de continuar a ser quem é. Direita, de pé e cabeça erguida, como se nada a pudesse perturbar. Dentro de si tudo pode acontecer. Ele nada testemunhará.

E a raiva... E a revolta... E uma sensação de injustiça... E a dor incontrolada a crescer dentro dum peito que não cresce ao tamanho que lhe é exigido!
Só a indiferença, o desprezo e a essência do que transporta em si são armas neste combate surdo.

É nas palavras amigas que encontra apoio. Que vê como a vêm. Como ela se julga ser.
É na solidariedade. Na oferta pronta para uma guerra que não quer fazer, que reencontra os amigos guerreiros, de que não dava conta.
Num ninho construído de mil gestos e palavras, que reencontra a paz.
No buraco em que se despedaçara encontra outras luzes e um conforto a que estava alheada.

Não tinha perdido nada quando foi atingida. Foi a prova que nunca tinha procurado, de que nunca estaria só.
Desta ferida com que ele a marcou, resta uma tatuagem forte e eterna.
Da amizade que se constrói sem se saber. Dos amigos que transporta com ela, sem pedir.

E forte, serena como nunca, enfrenta-o segura. E a quem vier. Da mesma forma. Em paz!

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