Nela...

Como se tudo fosse novo ainda. E o tempo... Nunca tivesse existido.
Nem as coisas que o tempo traz. E pendura a esmo em cantos que um dia percorreu.
Como se nada aí tivesse ficado.
Vive cada dia como se fosse o primeiro. Num espanto de dor ou alegria que desconhece verdadeiramente. Sem matriz. Como se não houvesse memórias ou tempo para as construir.
Na pressa da vida que teima em fazer.

Sabe de si só. Do sitio que habita. De quem a precedeu. Nada mais.
E nem a si conhece. Nem em si se ampara. Estranha o que sente. Não entende. O medo, o vazio, a tristeza que por vezes se instala... e a vontade de se alongar em alguém. Que não vê. Que não a vê!
Sonha o abraço que imagina colo em alguém sem rosto, nas noites que lhe restam.
Lê as estrelas á procura dum rumo que imagina existir. Não sabe para onde, nem para quê.
Uma dor aguda no peito, desperta-a. Não sabe de onde lhe vem tal dor. Não reconhece a cicatriz que agora vê. Não sabe como lhe foi plantada. Nem sabe como a arrancar.Tem medo. Corre para fora de si.
Vê-se trancada. Sem chaves. Sufoca. Estende os braços para ninguém.

Ao fundo, na nesga da noite, a luz. O ar.
Um esforço maior. Um espasmo. Um choro, um grito. A vida!
Tanta porta para abrir... Tanta para fechar!
E a correria do tempo ou a pressa que leva, que não a deixam descansar!
E o medo de não ter ninguém e de nunca poder parar.

Como lhe apetecem passeios curtos num espaço a inventar. A luz. A paz.
Um tempo sem tempo.
E não precisar de nada mais. Nem de ninguém.

Abraçar dum só gesto, duma só vez o mundo e a vida e bastar-lhe isso!

Sem comentários:

Enviar um comentário