Ensaio

Hoje não usaremos as velhas palavras. Aquelas que de tanto serem ditas perderam já a cor e o cheiro.
Hoje ensaiaremos outras. Primeiro em surdina, porque lhes pressinto a vergonha.
Não a vergonha por serem feias, tristes ou estranhas... Mas a vergonha de não te saberem ainda.
Serão rubras de espanto ao ouvirem-se. Darão as mãos, primeiro num toque suave e fugidio. Depois dum breve arrepio reconhecer-se-ão. E num espaço vazio inventado por nós, dançarão á roda das coisas por dizer.
E em vez da palavra antiga que um dia foi desejo e não se fez verbo, sentiremos em nós a coreografia em sons e gestos que a palavra, agora nova, sabe viver.

Esta que agora inventei, di-la-ei dentro do teu corpo. Só tu a saberás e poderás recriar pelo tempo da sua eternidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário