A Jardineira

Tem no Jardim, Flores que o seu Coração escolheu. Trata delas, como doutras, embora ausentes. Dá-lhe pena ver seu Coração triste. Chora com ele também. Sabe que escolhe sem razões. Sabe que escolhe porque sim. Então, rega, ajeita e cuida com muita ternura. Um dia talvez peguem e floresçam. Talvez o seu aroma se faça sentir.
O seu Coração tem um calor bom, um carinho grande, um colo do tamanho do mundo. Está sempre aberto e límpido. E ás vezes fica triste, pequenino, não sabe que lhe faça. Sabe que sente a falta das Flores que ama e escolheu para o Jardim que ela trata. Sabe que as quer ver e sentir. Mas ela nada pode fazer. E essa impotência deixa-a sem sentido no Jardim que tem, tão grande, com tanta alfaia, tanta vontade e tempo de o tratar...

Ás vezes chega a pensar ser uma fraca Jardineira e não merecer um Coração assim.
Pensa desistir e não aceitar as razões daquele imenso Coração...

É à noite, quando o sol se deita e a luz com ele, que a tristeza cai devagar no coração.
Olha as Flores que cuidou com mil cuidados. Com todas passou tempo.
Há uma que sabe especialmente angustiada e distante. A essa reservou um lugar especial. Visita-a quase em segredo. De longe. Fala-lhe numa linguagem que só o amor entende. Resguarda-a de tudo. Até de si. Não lhe conta quanto lhe quer. E quer-lhe muito!
Só para não lhe pesar. Não lhe faz sombra para além da sua para não a carregar. Queria ser bálsamo para a sua dor e sorriso para lho pôr.
É só paciência que sabe ser.
E o sofrimento que não consegue conter deve-o ao Coraçao que lhe dá vida e abrigo e nunca lhe faltou nas horas más. E sempre lutou por ela.
E sempre a defendeu com a mesma força com que escolhe as Flores para o seu Jardim. E com as mesmas razões. Razões que só ele conhece.
Por isso não desiste. E trata delas com afinco. E sofre por elas com o seu Coração. Afinal ela é a sua única Jardineira. Ele é o seu único Coração.

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