Os medos

As perguntas vinham estranhas como sempre. Inesperadas. Vindas não se sabe de que sítios. Sempre para confrontar e medir. Sempre para testar mais. Sempre para ter certezas de dúvidas que cresciam de coisas sem sentido.
Sabia que ele esperava a resposta. Que a exigia. E que tinha de a dar sem hesitação.
A resposta. Porque só havia uma. Só uma o calava e serenava.
Só essa seria a chave da sua paz.
E eram tantas as respostas que lhe ocorriam. Tantas as que tinham significado, que lhe diziam, a ela, alguma coisa...
E perdia-se, e enrolava-se nas palavras tentando adivinhar na expressão do homem que a olhava que estava no caminho certo. Que lhe dava a resposta certa. A que ele queria.
Porque só havia uma!
No peito apertado o coração tinha medo de bater. De se denunciar. E uma dor surda subia até á garganta a calar-lhe a voz. E uma suplica sempre. Um pedido de ajuda que nunca vinha.
Porque as respostas que dava nunca eram as que ele queria.
E vinha a raiva. Já lha conhecia.
E a afronta por ela não saber, nunca!
Por não pensar como ele, por não ser capaz de o sentir e entender. Por não se preocupar. Por estar longe. Por não o amar como devia.
E a súplica abafava o grito da dor quando em desespero ele lhe batia. Por ela não ser capaz!

Instalou-se o medo, companheiro. E muitos medos também.
O medo de perder. O medo de recomeçar. O de não se merecer nada melhor. O de não ser capaz. O medo de simplesmente ser.
Foram tantos medos e tão maiores que encheram a sua vida e não deixaram espaço para a sua libertação.
Porque amava duma forma louca e absurda o carrasco. Duma forma sem sentido e sem explicação.
Porque só queria ser amada como amava. De forma inteira.
Porque estava destruída. Porque não sabia já de si.
Porque se perdera nos sonhos e enredos dum amor que não tem um nome igual aos outros. Porque não o podia ser.

Porque agora que está já á distância. Sabe que há outros amores e desamores.
E muitos medos. Que pode vencer!

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