O tempo da planura

Não sei se te canso de tanto me ouvires falar. Olhas-me em espera.
Iluminas-me, respondo. Dás-me o espaço que preciso. A voz que não ouço quando me escuto. A distância que não tenho quando me afasto de mim. Fica comigo assim. Continua.
Tranquilizo-me. Respondes e acalmas.

Olho-me agora. Sim. As outras vidas, todas, cruzam-se na minha.
Nos sorrisos, nas lágrimas, nas esperanças, nos sonhos, nas vitórias e nas derrotas.
Em todas as medidas. Em todos os sentidos. Em momentos e circunstâncias diferentes.
Nas molduras que cada um constrói, as mesmas paisagens. Outros actores. As mesmas cores. Outras nuances. Pinceladas com raiva ou com doçura. E...
Ecos, sempre.
Que nunca temos tempo para ouvir.
Agora ouço e reconheço-me em todos os que ouço. E conheço-os com uma nitidez que me perturba, porque a julgava impossível. Porque para mim era tudo pouco claro. Muito confuso. Pouco explícito. Demasiado difícil. E doloroso.
Agora percebo.
Ainda me questiono. Ainda me sobe a náusea. Ainda me perturbo.
Mas entendo porquê. E aceito.
Porque vivo o tempo da planura. Onde tudo se espraia em liberdade e calma.
E as coisas são lisas, macias, suaves. Como devem ser com o passar dos tempos e das ideias.

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