Corrente

Tocou o telefone. Atendeu. Do outro lado uma voz alheia diz-lhe que o irmão mais velho tinha morrido. Parou. Disse-o para si. Irmão. O meu irmão.

Chamou as lembranças que dele tinha embora poucas vezes o tivesse visto. Nunca o conhecera bem. Era uma peça que sabia ser parte sua. Porque lho disseram, não porque o vivesse.
Conhecia-o das histórias que lhe contaram. De como tinha sido rebelde. Do fio de linha com que lhe uniam os pés para não se mexer. Da sua fuga para outras vidas.

A voz de lá pertencia a uma sobrinha que nunca conhecera. Perguntou. Quando? Como? Sim, vou aí ter!

Naquele instante deu-se conta da perda. Nunca o tivera e perdera-o para sempre. Sentiu dentro de si, estalar o elo duma corrente que nunca imaginara. Como se ela estivesse, daquela forma, ligada a ele. Por uma corrente de sangue. A que sentiu era de metal. Viu-a abrir-se soltar-se e desaparecer. Sentiu-lhe a falta e o vazio. Com uma dor que nunca antecipara.

O irmão tinha morrido e a corrente, da qual ignorava a existência, quebrara-se.

Sem comentários:

Enviar um comentário