O anel de pensar claro e certo

Para os outros era mais um adereço. Para ela, por ironia, era arma de defesa. Porque agressivo nas formas. Porque incisivo nas memórias.
Tinha nascido dum desejo formulado sem intenção. Não tendo como resultado final as imagens que lhe deram forma, tornou-se um fiel companheiro. Trazia-lhe ao presente, tempos que não queria voltar a viver. Espicaçava-a para novas vidas. Lembrava-a e forçava-a a andar em frente. Com força e determinação. Olhar para trás, serviria para se certificar que nada voltaria a ser como dantes. Só.
Agora era ver na amplitude que o olhar lhe permitia. E viver aí em cada instante e pedaço. Sem a pressa de chegar. Com a alegria de viajar. E com a fome e a sede saciadas sem limites e em prazer. Tudo a enternecia duma forma que desconhecera até agora. Tudo tinha um brilho mais intenso, uma importância maior. A vida sabia-lhe ao que era.
Finalmente o anel que era de outros tempos, turvos, pesados... Trazia-lhe a leveza e a claridade que nunca sonhara.
Era um anel de pensar claro e certo.

Sem comentários:

Enviar um comentário