O sapateiro

Na minha rua, depois da igreja, tenho uma taberna e uma mercearia escura dum lado. Do outro, mais á frente, quase ao fim, fica um sapateiro. Ocupa a entrada, daquilo que julgo ter sido, um pátio onde as alfaias ou os cavalos ficavam. Tem um sobrado de ripas grossas comidas já pelo tempo. Por isso, de lá, espreitam raios de luz dum qualquer buraco no telhado. O espaço está dividido em duas partes: a dos fregueses e outra. Essa serve-lhe de refúgio e descanso.

Por muito tempo aquelas portas não se abriram. Pesadas, enormes, faziam sentir a sua ausência de forma viva, enquanto ele quase morria. Cada dia que passava acrescentava tristeza à ausência. Tornara-se já, para todos que por ali passam, necessário. Faziam falta as conversas e sobretudo o bem estar na vida que ele transmitia.

Voltou mais magro e pálido. Os olhos vivos de rato tinham perdido cor. Mas dentro dele permanecia a força que sempre nos mostrara. A pouco e pouco foi dando um ar da graça que lhe conhecíamos. Ainda está connosco e vai continuar. Fico-me agora pelo aceno que ele atira ou pela graça que tem sempre á mão.

Para que fique sempre e para quando fizer falta, pedi-lhe uma fotografia. Ó dona, só se for para a SIC. Atirou ele. Respondia-lhe que era para mim. Porquê? Olhe, gosto de si!

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