Porque o mar lhe metia medo

Naquele dia o areal estava submerso por leve camada de água. Como se tudo fosse mar. Como se nada o fosse. Era sereno, transparente e convidava a caminhar. Enterrava os pés e arrastava-os construindo caminhos de água em direcção a mares profundos que tardavam. Caminharia. Com a certeza e a segurança que a limpidez das águas lhe traziam. Sabia que a dada altura , lá muito ao fundo, o mar se alargava e esticava em precípicios. Era uma linha distinta. Uma fronteira visivel. Que não ultrapassaria. Porque o mar lhe metia medo.
Aqui deixar-se-ia lamber pela água salgada. Estava-lhe já na pele a marca que o calor do sol fizera secar. Do sal. Que via agora branco áspero.
Ao longe o marulhar das ondas.
Recordações de conversas nocturnas, quando empoleirada em rochedos as lágrimas salgadas lhe corriam da cara em direcção ao mar que lhe embalava as dores. E as sepultava.
Agora e para já caminharia até poder. Porque o mar lhe metia medo.

Sem comentários:

Enviar um comentário