A lista

Caminha sem rumo. Alheia-se. Uma pena perdida na areia, chama-lhe a atenção. Trá-la de volta. Lembra-lhe escrita doutros tempos. Aparo que foi voo. E o descreve nas folhas que preenche. Para. Estende o olhar até onde ele alcança. Fecha os olhos.

A lista veio-lhe á memória. Nunca a fizera.
Ele tinha-lha pedido. Sim, tinha-o feito. Concordara em escrevê-la mas no fundo sabia que tal não aconteceria.
Não lhe entendia o propósito. Porque se quereria, ele, ver através de si? O que procurava?
Não. Nunca a faria. Amava-o com a calma de saber todas as coisas nele. De as saber parte integrante. Era um todo que encaixava sem nada sobressair em particular. Bastava-lhe isso.
Quando ele lhe estendeu uma que tinha feito, não soube que dizer. Achara que fora só um capricho, um exercício fútil.
No entanto quando se olhou na lista, que ele fizera de si, reconheceu-se de tal forma que lhe doeu a alma. Como podia ele sabê-la tão bem. E sabendo-a detalhe a detalhe como a amava ele tanto!
Talvez ela nunca conseguisse amar assim.
Por isso se escusava a tais pedidos.
Por ter medo de não encontrar razões que a mantivessem nesse estado de encanto.
Porque afinal, não amava. Deixava-se amar.

Abre os olhos que mantivera fechados e distantes. Avançou.

Sem comentários:

Enviar um comentário