Ter sem ter

Um dia, cansada de tudo e de tanto calar, disse-lhe.
Sabes? A minha dor maior é saber que o tenho sem o ter. É saber que ele existe.
Que está presente para todos e ausente para mim.
É precisar de lhe sentir o aperto do abraço, de lhe ver o sorriso, de o ouvir até zangado... De sentir de novo, que me exige mais e sempre. Que marque horas e me espere quando saio. Que até nem goste de quem eu gosto. Até disso. Das coisas que só doíam eu sinto falta.
E sei-o lá. Vivo. Presente.
Comigo, já não está mais. Quase que queria sabê-lo doutra forma. Entendes?

Entendeu. Não podia deixar de o fazer. Sentia a par com ela, desde sempre.
Quiz ser tudo!
Apeteceu-lhe ser pai e mãe num só. Ou ser só pai, e estar ali. Presente. E ser tudo, e dar-lhe tudo, o que ela queria , precisava, merecia... Tudo o que lhe faltava.
E teve raiva de ser só ela. De ser tão pouco. De lhe ter dado um pai assim. De ser só mãe.
Teria sido ventre e tê-la-ia embalado de novo em si. Não metafóricamente mas duma forma real. Estaria protegida, trataria dela, poupá-la-ia.
Só lhes restava o abraço. E a certeza de que a amaria com a força de mil pais.
E a certeza dorida de que nunca seria capaz. Mas essa guardou-a para si.
E era uma dor a duas. Uma dor presa na alma a bater forte no coração, a pedir alívio. Uma dor que penosamente ela entendia tão bem!

E só podia dizer-lhe que a amava. E que ele também, só a podia amar. Á sua maneira. Duma maneira que nenhuma entendia. Mas era impossível não a amar.
Um dia, ele aprenderia a dizê-lo, a mostrá-lo, a estar presente.

Até lá prometeram. Seriam as maiores, as melhores, as mais lindas, porque mereciam!

1 comentário:

  1. Sofrido...no entanto saboroso Momento este...voltarei...não como promessa, mas como certeza de que irei sem duvida Sorrir...

    até mais ler...;o)

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