Sabia-o

Ela sabia-o.
Não porque achasse que era assim. Olhava-se e via-se igual. Ás vezes, feia até.
Em tempos tinham-lhe dito que não era bonita mas, a simpatia, que irradiava, fazia-a assim. Bonita.
Talvez fosse isso. O sorriso e o bem-querer, que a tornasse visível.
Sabia que olhavam para ela. Sentia-o. Mas convivia com isso, sem disso, fazer caso.

Quando entrou no café, para o vicio da manhã, ia em fugida.
Posso dizer-lhe uma coisa?
Sim, diga. Pegou no saco que levava e no café acabado de servir e dirigiu-se ao homem que lhe fizera o pedido. Tinha-o já visto em conversa com amigos. Supunha que iria saber algo que tivesse a ver com eles.
Desculpe, preciso dizer-lhe uma coisa, não me leve a mal.
Esperou.
A senhora é “boa como o milho”!
Espantou-se e calou-se no espanto que não a deixava falar. Pois se nem sabia o que poderia fazer!
Ele corrigiu, perante o incómodo que viu provocado. Sabe…é bonita, elegante.
Ainda sem recuperar, sabendo que outros se uniram a ela no espanto, balbuciou em surdina que agradecia a gentileza. Mas por favor…não volte a dizer-me mais nada. Guarde-o para si.
Mas, se há tanto tempo o guardo? Respondeu. Desculpe, então.
Á procura do sentimento que devia vestir, que os sentimentos, ás vezes, não se revelam. Que os registos não estão ainda feitos… a razão não os aprendeu, saiu do café com a chávena a meio.
Sentiu raiva, reconheceu-a. Raiva de não saber expressar-se, de não saber que sentir.
Entrou no carro, acelerou.
Chegou a casa com a lágrima a bailar na dúvida de cair.

No fundo… ternura.
Pela simplicidade. Pela espontaneidade. Pela verdade que, também, sentira.
Porque em vez de olhares, ouviu a voz que os acompanha. Da forma mais rude e simples que alguma vez imaginara.

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