São gansos, senhor...


Pata acolá, pata aqui,
Filha de reis a guardar patos,
foi coisa que nunca vi.
Na cabeça pequenina de Maria, não cabia explicação para não ser filha e não ter pais. Todas as outras crianças que conhecia, viviam entre pais e irmãos. Maria, não.

Por isso, quando ouvia a história da "Princesa que guardava patos", sonhava.

Que, também ela, era princesa. Que, tambem ela, por alguma maldade, tinha sido tirada a seus pais.

Algo lhe dizia que na sua tez estava a resposta. Tão morena e ao mesmo tempo, tão amarela tambem!

Criou a sua própria história que não contava a ninguem. Embalava-a nos seus sonhos, quando só sonhar, podia.

Tambem ela um dia, fora princesa. O pai negro, para lhe justificar a cor, era rei dalguma tribo africana. A mãe, talvez chinesa. E assim, resultava a mistura que, lhe estranhavam.

Em viagens por terras distantes, o encontro dos pais. Ela, a semente que desabrochara. A vergonha, a culpa, os erros dos pais, que adivinhava, fizeram-na para longe, viajar. E guardar patos.

Um dia, seria a princesa que julgava então ser.

Aos pais, não os queria encontrar. Sabê-los, chegava-lhe.

Aos filhos, quando os tivesse, não os queria perder. Outras histórias e outros sonhos haveriam de os povoar.

Seriam o final feliz, das histórias que ouvia contar, a quem a criou.

Porque afinal, todas as histórias tinham um final feliz.

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