Stória, stória


Stória, stória. Furtuna di seu, ámen. (Cabo Verde)

É um mundo, muito escuro, como um poço sem fundo. Frio e negro.
Porque, também, é frio o mundo…
É uma menina muito triste, tão triste como um dia de chuva em que as lágrimas caiem do céu em torrente.
É um espaço sem fim e sem princípio.
No ar soam ruídos, afinam-se orquestras. Sem instrumentos visíveis.
Adivinha-se tudo e tudo se teme.

Como num colo, que não sabe, ela enrola-se em si num buraco de terra que cavara com as suas mãos e com lágrimas que deitara sem perceber.
Quando fecha os olhos com força, vê para seu encanto, mil pontos de luz que não conhece, senão assim.
Quando fecha os olhos devagar, sonha com as cores que adivinha existirem.

Um dia não lhe chega o mundo que tem.
Nos sonhos e pesadelos cresce o desejo doutras coisas.
Desaninha-se pela primeira vez.
Uma mão fechada a abrir-se. Um braço tolhido a esticar-se. Um olho e depois outro, abertos. Mexe-se. Todo o corpo ainda dorme.
Desajeitada mas firme deixa o poiso que a embalara e parte.
Braços abertos, estendidos, sentidos alerta, tacteia espaços e sons. Que, tantos há!
Atreve-se em constante balanceio.
Tudo tão novo e tão velho. Tão seu ainda. Só seu.

Tropeça agora sem amparo. Tomba. Tacteia de novo.
Pressente, sente, igual. Outro.
A cada gesto novo responde um gesto repetido. A cada som, um som.
É tocada. Encolhe-se, quer ninho, outra vez.

Abre-se. Sabe bem. Melhor que o colo que sempre teve.
Adivinha duas estrelas que a fitam. Sente agora o calor que delas emana. Aquece.
Vê-se em reflexo de si. Descobre-se enfim…
Entende-se então.

Para isto, é gente!

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