Em borboletas

Prestável e atento disse-lhe, deixa, respira fundo. E olha. Pensa em borboletas...
Borboletas? Ridiculo!
Franze o sobrolho. Porquê borboletas? De que cores, de que feitios, de que tamanhos?
Como se lhe apetecessem borboletas!
Ridiculo!
Ele insiste. Verdade, não te deixes ir abaixo. Borboletas, lembra-te.
De novo?
Está bem. Borboletas...
De muitas formas. Isso, borboletas com muitas, diversas formas. Asas grandes, pequenas.
Muitas. A voar. Em pausa...
Sente-lhe os olhos. Os olhos grandes de ver mundo. Nítido. E um sorriso. Em borboleta. Sim borboleta!
Via-as agora claramente. Suaves, tranquilas...
Resultara. Nada estranho afinal.
Com as borboletas, voaram os pensamentos que a afligiam.
Agora, sempre que precisar, vai pensar em borboletas.
E virá o sorriso. E verá também com olhos de ver claro. O que interessa ver.

Como quem ata uma fita na perna duma cadeira e lhe dá três nós, recitando a cantilena mágica. Apareça, apareça o diabo sem cabeça.
Ou como quem conta carneiros até que o sono caia.

Pensar em borboletas. Deixar-se ir.

1 comentário:

  1. Leio estas palavras devagar, com a preguiça do olhar...pois há momentos em que sentimos de súbito a presença da harmonia nas asas de uma borboleta que, como o mar, não se cansa de fazer sempre a mesma coisa...sim, quando estamos diante da beleza só nos resta nada fazer, apenas gozar a felicidade que nos é oferecida. " Ah a frescura da face de não cumprir um dever" disse-o sabiamente Fernando Pessoa. Pensar em borboletas.Deixar-se ir...disse-o você!

    ResponderEliminar