Que magia...?

Todas as manhãs, assim que o sol ilumina as frestas das persianas mal corridas, esgueira-se sorrateira, deixando o volume do seu corpo, dormindo ainda.
Desce as escadas, encostada às paredes que, agrestemente, a amparam. Suspira ais, porque lhe pica a parede, mas engole-os, não se desfaça o silêncio.
Percorre a casa em direcção á sala onde está a televisão. Carrega no botão e sobe apressadamente para o sofá. Compõe-se a jeito e arregala os olhos, para nada perder.
Apercebe-se então da sua nudez. Dorme á vontade. Só a cuequinha a aconchega. Ali, meia nua, protege os pequenos mamilos, para não ser vista em tais preparos, pelos homens da televisão que lhe interrompem os desenhos animados.

Um dia também quer entrar naquela caixa, onde tanta gente vive.
Como se tornavam eles, pequeninos? Que magia haveria, que lhes permitia ali entrar?
Escorrega do sofá, baixa-se e quase de gatas chega á mesa onde estava o grande ecrã. Levanta as saias á mesa e nada de estranho descobre. Nenhuma possibilidade se adivinha. Rodeia então a mesa. Por trás da televisão, aquelas frestas, são de certeza, a solução para o seu problema. É por aí que entra toda a gente. Mas como o fazem? Se ela, tão pequenina, não cabe lá?

Senta-se de novo, agora, atenta aos “bonecos” que deixara a meio. Talvez, nas histórias que ouve, se desvende o segredo que quer saber.
Amanhã, como ontem, fará o mesmo.
Quando for grande, vai perceber.

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